Leio, logo indico: O Rei Lear
Antes de cumprir com meu propósito do dia (falar do livro God, help-me!) gostaria de alertá-los que estou passando por um certo bloqueio de escrita -.- Leio os livros e fico com um milhão de ideias fervilhando na cabeça, mas, na hora de escrever, não chego nem perto de expressar o que quero dizer ... e isso vindo desta que vos escreve é um perigo, pois posts gigantes cheios de blá-blá são minha especialidade. Mas... tentarei!
Pelo título do post você provavelmente já percebeu que o indicado da vez é mais um clássico, daqueles que leitores do mundo inteiro conhecem, referência desde ... sempre? 1606! "Lear" é muito conhecido. ( ou será que não?)
Sinopse
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Ao chegar à velhice, Lear, rei da Bretanha, se vê obrigado a dividir seu reino. A maior desgraça para um monarca atingira-o: para protegê-lo e garantir sua sucessão, nenhum filho varão, apenas três filhas mulheres, Goneril, Regana e Cordélia. As duas primeiras são casadas, respectivamente, com o Duque da Albânia e com o Duque da Cornualha, olhos cobiçosos por sobre as terras bretãs, enquanto que Cordélia recusa-se a casar, para permanecer ao lado do pai. Mas o assédio de estranhos pelo reino não é o mal maior do qual padece o rei. A progressiva dificuldade de discernir as atitudes e os discursos daqueles que o cercam, o embotamento da percepção da sinceridade e da falsidade humana e a suspeita errônea de onde viria a traição são os males fatais para o outrora grande monarca.
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Tragédia escrita por um dos escritores mais famosos de todos os tempos, talvez “O Rei Lear” seja conhecido apenas em tese, mais como um símbolo do que por sua história propriamente dita. Sendo esse o terceiro livro que leio de Shakespeare (apenas três :'( ), é importante dizer que esse foi o único que li no formato original, texto dramático, e simplesmente adorei!
Os temas abordados no livro não são nada leves, pelo contrário, como toda tragédia que se preze, têm aquela pitada de grotesco ( é, essa é uma palavra forte, mas é isso mesmo), de absurdo (no sentido “como fulano pode fazer uma coisa dessas O.O?”) e nos desperta uma profunda angústia em relação a raça humana (ou deveria dizer desumana?). Essa não é a tragédia mais cruel chocante que eu já li (não que eu tenha lido muitas), talvez por ter um sutil – muito sutil – traço de humor. Às vezes até achei que poderia ser pior ( não quis soar insensível, mas não achei outra forma de dizer ^.^), mas, então, “voltava atrás” e tinha que admitir, alguns acontecimentos já eram ruins o bastante... e o pior foi de fato muito pior (enrolei um pouco agora, não? :s).
Lear: […] Quando a alma está em sossego, o corpo é mais sensível: a tempestade da minha alma apaga em meus sentidos toda outra sensação senão a que dói aqui." ( p. 76)
As poucas páginas (são 140 na edição da L&PM) podem ser lidas com extrema fluidez, para aqueles com um pouco de imaginação (acredito que isso não seja problema para os leitores de plantão) fica fácil visualizar as cenas. Mesmo que o vocabulário seja um pouquinho rebuscado, em momento algum me senti perdida; como disse antes, esse tipo de “texto teatral” tornou-se muito interessante e impôs certo ritmo à leitura.
Os personagens são dignos de análises e análises (por isso não ousarei aventurar-me), cheios de disfarces, um mais complexo que o outro e, por quê não dizer, mais louco também. Quando falo que muitos conhecem o Rei Lear em tese, quero dizer que ele sempre trouxe a mim a imagem da loucura, mas descobri que a questão é um pouco mais profunda. Uma história sobre insanidade sim, mas também sobre “família”, cobiça, traição, abandono e escapismo, pois a loucura pode ser também uma forma de fuga.
Muitos nomes são mencionados (o melhor de tudo é que no início da edição tinha um “índice" explicativo... assim eu não precisava ficar procurando o trecho que explicava quem era quem, ia direto até a fonte ^.~), mas não são meros figurantes, cada um desempenha seu papel para o desfecho final (sobre isso não falarei muito pois é muito perigoso :X rs).
Particularmente, devo confessar que tenho tendências à “romancear” histórias, procurando um possível foco de “fairy tales” ( fiquei fantasiando possíveis desfechos rs dá vontade de escrever uma fanfic - sqn ... não teria coragem de destruir a obra de Shakespeare O.O), mas tratando-se desse clássico recebi um balde á fria - ou não, se você pensar em como são os verdadeiros contos dos Grimm, por exemplo... pensando melhor, encontrará várias semelhanças), pois se for para dizer algo sobre o relacionamento entre alguns personagens, é admirável que ainda existam bons sentimentos nessa história –.- ... então prepare-se para a face mais escura da realidade (é ficção, mas em vista da decadência atual, não duvido de nada!).
Lear: Assim que nós nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos. […] " (p. 114)
Acho que já falei demais – apesar de não ter falado nada sou um paradoxo ambulante -.-‘ – então, só restar ir direto ao ponto: o livro é ótimo e super indico! Leia e pense um pouco sobre si mesmo, sobre seu presente e seu futuro, lembrando sempre que o tempo passa, o que é material (os bens, os corpos) se desgasta, e até mesmo algumas almas se consomem – pela ganância, pela maldade... - enquanto outras se entrelaçam à eternidade, seja por sua coragem, sabedoria ou bondade, e isso, caros leitores, é muito bem ilustrado na história desse velho Rei, que me fez parar e perguntar: será verdade que de louco todo mundo tem um pouco? Temo que sim.
Goneril: Basta; é um sermão idiota.
Albânia: Sabedoria e bondade aos vis parecem vis. A imundície adora-se a si própria. […]" ( p.99)
Edgar: Oh, que mistura de bom sendo e de absurdo. A razão na loucura.” (p. 114)
Então é isso ^.^, se minhas palavras não foram coerentes, perdoem-me, vamos fingir que ainda estou sofrendo os efeitos de estar em companhia de Lear, do Bobo (nem falei dele para isso aqui não ficar parecendo Os Lusíadas -.-) e sua "trupe". De qualquer forma, resta-me o consolo de saber que deixei-lhes os quotes com as palavras de alguém que talvez entendesse esse mundo de loucos .-.
Até o próximo post!
Bjs!!
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