Leio, logo indico: Ana Karênina
O que faz uma pessoa realmente feliz? Não um sentimento de alegria fugaz, mas uma felicidade duradoura, consistente, que permanece a cada dia, mesmo em face de desentendimentos, frustrações, lágrimas? Particularmente, acredito que todos saibam - ou deveriam saber - que não há uma receita para alcançá-la, mesmo por que cada um tem o seu ideal de felicidade. Então pensemos na máxima que inicia o livro do “leio, logo indico” de hoje, pois uma coisa é fato, apesar de serem as primeiras palavras do livro, caro leitor, você pensará nelas durante toda a leitura:
"Todas as famílias felizes são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira".
Nessa busca pela felicidade, como eu vejo o livro, tudo vem à tona. Discussões em voz alta, ou entraves internos sobre família, amor, casamento, religião, status, entre outros fazem parte de crises existenciais, são pano de fundo para a polêmica central: a infidelidade. Quando se trata de “Ana Karênina” não convém discutir seu valor, nem sua fabulosa construção quanto obra literária, tamanha é a inquietação que essa leitura pode despertar nos leitores. É o tipo de livro que faz você querer falar com alguém a respeito dele, dividir a carga que parece pesar sobre os ombros dos personagens e por vezes ultrapassa as páginas e atinge o leitor,pois cada um deles tem uma história, e nelas não existem heróis, tão pouco violões absolutos.
A leitura não foi fluida, há algumas discussões políticas, filosóficas e, até mesmo, agrícolas, que tornam o livro enfadonho( sem contar que, mesmo sem atrapalhar o entendimento, os nomes e apelidos russos ilógicos foram um caso à parte **). Ao ler a última página confesso que pensei: “missão cumprida”! … Não por ser um livro ruim, mas cansativo por sua densidade material e psicologia, já que além de ter 654 longas páginas (a edição que li), vi-me lançada em turbilhão de emoções, as dos personagens e as minhas.
Edição que li ( emprestada da biblioteca : ( ) |
Muitas personagens entram e saem de cena, mas, mesmo assim, ainda considero grande o número dos assíduos no enredo (tive que focar minhas opiniões, pois cada um deles é um caso a parte Oblonsky que o diga -.-). Eles são construídos com tanta personalidade, tantos detalhes, tão humanamente cheios de qualidades e defeitos que só o fato de estarem ali basta, ao mesmo tempo que toda a história parece se escrever sozinha, é como se tivessem vida própria, cabendo a eles apenas existir (talvez possa chamar de destino).
Mesmo com um a narrador em terceira pessoa, ele tudo sabe, tudo vê, colocando-nos a par de várias perspectivas, nos faz entrar na mente de cada um e saber o que sentem e pensam sobre cada detalhe. A personagem título não é o centro da história (se quer aparece nas primeiras páginas... Talvez eu diga isso apenas porque estava muito ansiosa para saber quem era Ana Karênina), apesar de sua importância na trama - de forma direta ou indireta influenciou a vida de todos - ela não é tudo o que eu esperava/parece ser, dado o nome do livro.
Ana é uma mulher espetacular em todos os sentidos, é quase como uma “feiticeira”, uma conquistadora (propositalmente ou não) que desperta olhares e intensas reflexões a cerca de sua figura por onde passa; poderia dizer que é do tipo “ame-a ou deixa-a”, não fosse pelo fato de eu mesma ter ficado algumas vezes em cima do muro: ao mesmo tempo em que causava-me extrema antipatia, sentia pena; ora fazia-me achá-la horrível, ora fazia-me sentir insensível e incompreensiva. Por diversos motivos - entre eles atitudes das quais não compartilho - sua inconstância em alguns pontos e o fato de ser tão complicada consigo mesma (mas quem não é?), não consegui torcer por seu “final feliz”, o que desejei profundamente para outros personagens cujas histórias se cruzaram com a de Ana, numa teia de amores e dissabores.
A mimada, porém doce, sensível e por vezes bondosa Kitty e o tímido, trabalhador e inquieto Liêvin formam o meu caso preferido no livro, sendo este último o meu personagem preferido entre todos. Gosto do seu caráter, da sua integridade e sinceridade, ele é um homem simples, genuíno, nem sempre reconhecido. Apesar de ter dois irmãos, a pessoa a quem mais lhe é próxima, o seu melhor amigo, é o irmão de Ana, Oblonsky (esse é outro que causa um tremendo nó em minha cabeça, cativa todo mundo, mas suas atitudes e forma de pensar :x).
Minha capa preferida (não sei de onde :x) |
Façam essa Leitora feliz, deixe um comentário ;)
Até o próximo post!!
Ps.: Não há forma correta de escrever o nome do livro! Com 1 n ou 2? Com ou sem acento? Karenina ou Kariênina? O.O Optei por colocar como está na edição que li (foto). Então, caso vejam escrito de outras maneiras é apenas uma questão de tradução, sendo o original "Анна Каренина" (difícil.,né?).
** Existem várias formas de se referir ao mesmo personagem:
Filho de Ana - Sérgio Alieksiêivitch ou Sierioja ou Kútik;
Irmão de Ana - Oblonski, Stiva, Stiepan Arcadievitch;
Esposa de Oblosky ( e irmã de Kitty) - Dária, Dolly, Dacha, Dólinka;
Kitty, também conhecida como: Catarina, Katienka, Tchierbatskaia e mais para o final recebe o apelido de Kátia ¬¬'.
Constantino Dmitrievitch Liêvin ou Kóstia.
Cansei!
E, como se isso tudo não bastasse, marido e amante têm o mesmo nome -.-, ambos são Alieksiei, o que entenderia como uma ironia de Tolstói, não fosse o fato de que na parte final do livro aparace um terceiro ser com o mesmo nome: o príncipe, pai da Kitty, que também é Alieksiei e eu não sabia!
** Existem várias formas de se referir ao mesmo personagem:
Filho de Ana - Sérgio Alieksiêivitch ou Sierioja ou Kútik;
Irmão de Ana - Oblonski, Stiva, Stiepan Arcadievitch;
Esposa de Oblosky ( e irmã de Kitty) - Dária, Dolly, Dacha, Dólinka;
Kitty, também conhecida como: Catarina, Katienka, Tchierbatskaia e mais para o final recebe o apelido de Kátia ¬¬'.
Constantino Dmitrievitch Liêvin ou Kóstia.
E, como se isso tudo não bastasse, marido e amante têm o mesmo nome -.-, ambos são Alieksiei, o que entenderia como uma ironia de Tolstói, não fosse o fato de que na parte final do livro aparace um terceiro ser com o mesmo nome: o príncipe, pai da Kitty, que também é Alieksiei e eu não sabia!
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