Leio, logo indico: Feche bem os olhos
É comum viajarmos na imaginação quando lemos um bom livro, querer fazer parte do que é lido (viver uma aventura de tirar o folego, um romance arrebatador ou conhecer reinos mágicos), mas é ao nos depararmos com histórias que nunca queremos que se realizem que somos lembrados de que a mente humana pode abrigar tanto os mais belos e luminosos sonhos, com os mais obscuros e desumanos instintos, que percebemos tristes verdades.
O prólogo do livro indicado de hoje registra as sensações de alguém que julga ter solucionado algo com perfeição e, como resultado, acreditou ter alcançado " uma profunda compreensão de tudo, uma compreensão que ia muito além do alcance normal da sabedoria humana". Só que não, pois a grande façanha que esse individuo acabou de cometer foi um assassinato brutal, na falta de palavra pior para definir a morte de Jillian Perry, uma história que nada tem a ver com humanidade, e sim com a total falta de compreensão do que essa palavra significa, dando um novo sentido à expressão "usar a inteligência para o mal", até que a mente ativa de David Gurney entra cena e "os olhos" começam a se abrir.
Essa é a segunda obra do autor lançada no Brasil, ainda não li o título anterior, “Eu sei o que você está pensando”, e mesmo sabendo que esse livro não era uma continuação do mesmo, vi-me apreensiva toda vez que o último grande caso do detetive era mencionado. Não são reveladas muitas coisas, mas alguns pequenos detalhes deixaram-me realmente com vontade de fechar os olhos para não ficar criando teorias, pois uma coisa é certa, quando leio um romance policial não posso evitar, imagino as mais variadas (e furadas) teorias sobre o que deve ter acontecido.
E em Feche bem os olhos não foi diferente, já nas primeiras 100 páginas (devoradas de uma vez só) vi-me com um imenso quebra cabeça nas mãos, quase que literalmente, pois fiquei tão ansiosa que tive uma "literal dor de cabeça" (ok, não foi só por causa do livro, mas meus neurônios se exercitaram um bocado rs). Talvez seja por minha imaginação fértil (ou por passar muito tempo assistindo Fringe O.o?), que comecei a ver conspiração em cada acontecimento (por isso jamais poderia escrever um livro como esse não sei onde ele iria parar!), entretanto, se é verdade que quando estou lendo imagino coisas mirabolantes e fantásticas mesmo onde não existem, sou igualmente sincera quando digo que o autor deu margem para tanto, não inteiramente culpa desta leitora, pois tantos mistérios me fizeram divagar (ainda mais que o normal) e ficar pensando que sempre tinha algo escondido.
nota 1 |
O nome do livro é Feche bem olhos, mas bem que poderia ser o inverso. Cada uma das páginas escritas por John Verdon é completamente cativante. Em um intrincado trabalho mental o protagonista David Gurney se vê imerso em um caso que não deveria. Ele é um policial aposentado, que se mudou para o campo para ter uma vida diferente, mais pacata e próxima à natureza, ou pelo menos essa era intenção de sua mulher Madeleine -já que para Gurney isso não é algo que faça parte da sua natureza - logo procurar por uma assino cruel e desalmando que decapita um noiva no dia do casamento não era o mais indicado a fazer... pelos menos não se você não quer colocar seu casamento em risco.
Não me entendam mal, Gurney é um bom homem, mas é racional e frio em muitos aspectos, durante muitos momentos da narrativa o senti distante e sempre muito preocupado. Talvez por ser extremamente racional, ele não seja do tipo que consegue simplesmente apreciar a vida, ele sente a necessidade de analisar tudo o que o cerca, e como o próprio personagem diz, sente a necessidade de ter problemas para solucionar, pensar em algo além de plantações e afazeres domésticos e flores (a não ser que seja Hector Flores, o homem que teria matado Jillian).
Além das pistas e contratempos que toda boa investigação evoca, a história não só te faz querer virar compulsivamente cada página para chegar logo o final e descobrir a verdade, como também é super interessante por sua densidade psicológica. Não há grandes momentos de ação física, mas fiquei tão empolgada quanto se houvesse, pois com a capacidade de observação e percepção a que os leitores são apresentados, despertaram em mim a vontade estudar psicologia forense ou algo do tipo, caso não fossem alguns aspectos do trabalho,pois é realmente um trabalho fascinante!... Mas, como disse, não fossem alguns “porém”.
nota 2 : Hardwick #bléh :P |
Entre os outros fatores que se destacam na trama, inteligência e loucura são temas recorrentes, sendo que esta última quase um pré-requisito . São conceitos que tanto podem não estar associados, como podem ser próximos, quase intrínsecos (não me lembro de ter lido algo com tanta gente perturbada mentalmente).
Um ponto que constaria de ressaltar é a diagramação do livro, excelente! As páginas amareladas, as margens, o bom espaçamento e tamanho da fonte contribuíram para a leitura - visto que são 432 páginas no total (mais ou menos 414 de leitura efetiva) – fazendo com que a escrita de John Verdon pudesse ser devidamente apreciada. Contudo, algo que merece um destaque a parte é a capa! Simplesmente perfeita! Quando vi pela primeira vez, ainda na tela do computador, não pude perceber de primeira os detalhes, que por sua vez são simples e extremamente sugestivos! As pétalas de rosa que parecem ser gostas de sangue, o fundo metalizado (que poderia representar uma lamina) o tom sombrio, a palavra “feche” sutilmente cortada! Tudo a ver!
nota 3: "vivo" pode parecer meio irônico, mas é (página 240) |
Descrevo esse livro como sombrio, macabro, intrigante e envolvente; fácil de ler, difícil de esquecer. Alguns detalhes ainda ficam dando nó em meus neurônios pairando em minha mente, mesmo sendo tão “sinistra” em muitos aspectos, mergulhei tanto na história com o seu mesma fizesse parte a equipe de investigação, e talvez por admirar tanto a agilidade mental desse tipo de trabalho, queria um desfecho mais elaborado. O final não foi tão surpreendente, pode parecer mentira, mas bem lá no fundo “Eu sabia!”^.^. Então digamos apenas que eu poderia fazer meu próprio interrogatório ( :p rs). O final deixou-me um pouco chocada, não pelas revelações si, mas porque alguns detalhes me fizeram querer saber como tudo vai ficar após esse “encerramento“, as possíveis consequências e pontas soltas que bem poderiam originar a próxima história (curiosa demais!).
É a própria mente de um homem, e não seu inimigo ou adversário, que o seduz para caminhos maléficos.
Buda•○•○•○•○*•○•○•○•○•Até a próxima leitura!
:*
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